sexta-feira, 11 de março de 2011

Experiência de mobilidade


Quando tinha 14 anos eu e o meu pai fomos viver para Inglaterra, porque a vida cá em Portugal estava má. O meu pai recebeu uma proposta de um grande amigo dele, que morava em Londres, para ir trabalhar em Inglaterra. Nesse momento o meu pai estava desempregado e não resistiu à proposta do amigo dele e perguntou-me se eu gostaria de ir estudar para Londres porque a vida em Portugal estava má e não conseguia arranjar emprego em lado nenhum.
Nesse mesmo dia fui pensando no caso e disse-lhe que sim no dia seguinte, que não me importava de ir para Londres estudar. Assim foi, ao fim de alguns dias eu e o meu pai fizemos as malas e saímos de Portugal.
Quando chegámos a Londres o amigo do meu pai estava à nossa espera. Ficámos alguns meses numa casa alugada mas como o meu pai estava inscrito no COUNCIL de Londres arranjou uma casa para nós vivermos ao fim de alguns meses.
Depois de termos todas as coisas organizadas o meu pai inscreveu-me numa escola inglesa. O inglês que falava não era muito bom pois apenas tinha aprendido inglês na escola, cá em Portugal, e só o básico, que foi muito pouco.
Quando entrei para a escola inglesa os professores foram sempre muito simpáticos para mim e apresentaram-me a um aluno da mesma turma em que eu ia ficar para me mostrar a escola e me apresentar aos outros alunos e alunas. Nesta escola não havia nenhuma pessoa que falasse ou entendesse a minha língua, a única pessoa com que eu falava português era ao telefone com a minha madrinha ou com o meu pai em casa.

Nesta escola, tanto eu como os outros alunos tínhamos que andar fardados com uma farda própria da escola (cada escola em Londres tem a sua própria farda), cada dia que foi passando o meu inglês foi melhorando.
Havia dias em que podíamos ir vestidos com as nossas próprias roupas para a escola. Os rapazes ingleses gozavam comigo porque não gostavam da maneira como eu me vestia, mas elas achavam graça. Quando comecei uma grande amizade com um inglês ele dizia-me para me vestir de forma diferente para não ser gozado pelos ingleses. Eles vestiam-se sempre com roupa de marca e andavam muito de fato de treino. Ao fim de alguns meses o meu inglês já era bom, já tinha aprendido a ler e a escrever muito bem. O meu pai, aos fins-de-semana, levava-me à área dos portugueses para eu não me esquecer do meu português e também me pôs a estudar depois das aulas inglesas, às terças-feiras, numa escola portuguesa.
Nas férias grandes vinha sempre a Portugal visitar a minha madrinha e amigos, de Londres para Lisboa e depois de Lisboa para Vila Nova de Milfontes. Ficava em Lisboa por muito pouco tempo era mesmo só de passagem ia logo para Milfontes para a praia gozar o sol.
Se não tivesse passado por esta experiência de imigrar para Inglaterra eu não tinha aprendido a falar bem o inglês como sei, a escrever e também a ler. A música que eu ouvia antes de me ir embora de Portugal era. Hoje em dia eu não gosto muito de rock pois ao longo do tempo fui-me habituando a ouvir outro tipo de música que ouvia em Inglaterra e agora tento ouvir rock e não gosto.
Também me habituei à cultura dos ingleses, eles tem o hábito de tomar um pequeno-almoço muito grande como se fosse um almoço ou um jantar. Quando acordava ia ao café com os meus colegas de escola e pedia um english breakfast, pois era o que eles comiam. A ementa do prato tinha uma caneca de chá, duas salsichas, duas fatias de bacon, feijão inglês, a que dão o nome de beans e também duas batatas cozidas. Este era o pequeno-almoço de ricos.
De igual modo, se eu não tivesse imigrado, não teria conhecido todos aqueles edifício e museu bonitos como a London Bridge, o Olho de Londres, o museu de Hollywood, etc.
Quando cheguei de Inglaterra foi um bocado difícil voltar a habituar-me a falar e a pensar o português como deve ser. Havia situações em que as pessoas falavam comigo num português muito rápido e eu não entendia muito bem porque ainda estava habituado ao inglês.
Ao longo do tempo isso foi passando, agora consigo pensar das duas maneiras e também consigo perceber a minha língua melhor.

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